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Ciclos e Linhas: o tempo como narrativa
Fundação Hassis - Florianópolis/SC
15 de maio a 18 de junho de 2025
Retalhos de Afetos
Os afetos, segundo Freud, são emoções que integram as experiências humanas, podendos ser negativos ou positivos. Ordinariamente, na sua acepção mais comum, diz respeito à afeição ou sentimento terno que se pode ter por alguém. Como experiência profunda, os afetos integram nossa bagagem mental e sensorial e são despertados no tempo da existência por meio de imagens e objetos. Essa foi a poética escolhida para essa amostra e, por isso, a utilização de fotos e objetos antigos de família, como se essa herança pudesse revelar mais sobre nós mesmos. Por isso, em meu processo artístico foi utilizada a técnica da aquarela para as composições das louças, como expressão artística sútil e que mais se amolda aos pontos em reflexão. É o que também ocorreu com a uso do corte, remontagem e colagem das fotos de família. Por último, por meio do bordado e crochê, artesanias ancestrais femininas, desejo retratar à ideia de afetos como partilhas geracionais. O que resta das nossas memórias são fragmentos perdidos que, por vezes, estilhaçam o tempo como um flash instantâneo e fugaz. As imagens são trazidas do inconsciente como uma rede de fios que ora se conectam e, outras vezes, se afrouxam. Nossa estória é feita com esses pedaços que se justapõem e nunca são fiéis ao passado, porque os fatos são sempre atravessados por afetos. Esse tipo de memória é chamado por Bergson como qualitativa, pois advém das experiências significativas do “eu profundo” e nos modificam. A imagem da xícara antiga da avó paterna traz com ela o cheiro do café e dos sons das conversas de domingo. A dança da agulha ao “ir e vir” da mão enrugada, de imediato faz lembrar os diálogos noturnos entre as mulheres da família, sob os ruídos da televisão. Coisas tão pequenas e singelas, que, emergem no futuro, como reminiscências delicadas que impregnaram nossa alma de formas diversas. Há, também, espaços vazios que não podem ser ocupados, como imagens desviadas pela dor que não deseja propagar seus efeitos. Nossa estória é composta por momentos nem sempre vívidos ou agradáveis e a memória é essa colcha de retalhos de afetos que aquece nossa condição humana.

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